1.200 sem-terra ocupam fazenda em Alto Paraíso e dizem que chegaram para ficar
Cerca de 1.200 pessoas ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) ocuparam às 6h30 da manhã desta terça-feira (25) a fazenda Lupus, no município de Alto Paraíso, a 70 quilômetros de Umuarama. Os líderes pedem a desapropriação imediata da área, de 1.250 alqueires.
Tocada por 12 arrendatários, que preparam a terra para plantio, a fazenda foi declarada improdutiva em decisão judicial de primeira instância. O proprietário, Luiz Carlos Lobo, do grupo Nutriara (Foster), recorreu e iniciou-se a batalha jurídica.
Há vários anos, dezenas de famílias estão acampadas perto da propriedade. Elas integram um outro movimento, a Contag (Confederação dos Trabalhadores Rurais na Agricultura). Nesta manhã foram convidadas a se unir ao MST mas até o final da tarde não havia uma resposta oficial.
O assessor especial para assuntos fundiários do governo do Estado, Hamilton Serighelle, esteve em Alto Paraíso durante a tarde. Ele se reuniu com coordenadores do MST, da Contag, lideranças policiais e o prefeito da cidade, Dercio Jardim Junior. No encontro ficou definido que o movimento deve ser pacífico e um novo encontro deverá acontecer no próximo dia 8. Dezenas de pessoas permaneceram aguardando em frente a Prefeitura.
O prefeito demonstrou preocupação diante do aumento populacional no município, de 3.700 moradores, já contando as famílias da Contag. De acordo com Preto, os serviços de saúde já estão no limite e sem o apoio do governo será muito difícil garantir atendimento às famílias que chegaram nesta manhã. Serighelle disse que haverá aporte do Estado.
O assessor responsabilizou o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) pela ocupação. “O Incra está devagar, está inerte”, disse a OBemdito. Segundo o assessor, 1.500 famílias deveriam ser assentadas por ano no Estado. Nos últimos sete anos, apenas 600 famílias tiveram a situação regularizada, de acordo com Serighelle.
Crianças
Pelo menos 200 crianças estão com os pais na ocupação. Angelo Quintanilha, um dos líderes do MST, disse que elas frequentarão uma escola itinerante improvisada no próprio local. “Existe toda uma organização montada. Nós viemos para ficar e daqui não vamos sair até que não tenhamos uma resposta positiva das autoridades judiciais”, disse.
Os sem-terra ocupam as três sedes da fazenda. Não houve reação dos funcionários no momento em que as caravanas chegaram. “Assim como nós, essas pessoas (funcionários) não têm terras. Se quiserem, podem permanecer com a gente, aqui na luta”, declarou Quintanilha.
OBemdito não pode entrar em nenhuma sede da fazenda. Para conversar com a liderança, foi preciso passar por uma espécie de cordão de segurança. Um dos sem-terra manteve contato com o coordenador principal para autorizar a passagem dos repórteres. Os caminhos estão bloqueados por arames.
Várias barracas estão instaladas próximo da casa. Enquanto entrevistava a liderança, OBemdito presenciou um sem-terra informando que iria a um córrego próximo para tomar banho. A fazenda demonstra oferecer boa estrutura. Havia sinal de internet wifi, bloqueado por senha.
Movimento
Nesta terça (25) é comemorado o Dia do Agricultor Familiar. Segundo Quintanilha, a data foi escolhida para várias ocupações do MST em todo o país. Ele negou que a decisão tenha o objetivo de servir partidos de oposição, como o PT, em um possível ato contra o governo federal, liderado pelo PMDB.
Fonte:OBemdito